São Paulo – Longe de resolver deficiências na mobilidade urbana da capital paulista, investimentos em obras viárias ampliam o espaço destinado a automóveis e aumentam os congestionamentos, apontam especialistas ouvidos pela Rede Brasil Atual. Depois do investimento de R$ 9,7 bilhões no Rodoanel – trechos oeste e sul -, na Nova Marginal Tietê e no Complexo Jacu Pêssego, a situação do trânsito já é a mesma de antes das obras, descreve o consultor de engenharia de tráfego e transporte Horácio Figueira. “Pode-se dizer que foi dinheiro jogado fora”, resume.
Novo trecho do Rodoanel – agora na área norte, passando por São Paulo, Guarulhos e Itaquaquecetuba – está orçado em R$ 6,51 bilhões, com entrega prometida para novembro de 2014. Termo de compromisso entre governos federal e estadual foi assinado em 13 de setembro. “Investir nessas obras é um grande desperdício”, avalia Marco Nordi, um dos coordenadores do grupo de trabalho sobre mobilidade urbana da Rede Nossa São Paulo.
As obras viárias são discutíveis, aponta, porque cada novo empreendimento abre mais espaço para os automóveis trafegarem, enquanto os problemas de mobilidade permanecem. “Todo espaço liberado é tomado pelos automóveis”, diz Nordi. “A frota de São Paulo não cabe nas ruas”, confirma Figueira.
Na avaliação do consultor, a Prefeitura paulistana tem “paúra” de incomodar os carros. Em consequência, deixa de investir em transporte público. “Os R$ 6,51 bilhões do trecho norte do Rodoanel dariam para construir 35 quilômetros de metrô”, argumenta. “Priorizar o automóvel é priorizar a minoria: um terço da população usa carro, em detrimento de todas as outras pessoas”, critica Nordi.
Alternativa
Na contramão das grandes obras viárias, Figueira sugere medidas simples para melhorar a mobilidade na capital paulista. A alternativa seria investir em corredores de ônibus, que são mais baratos e rápidos de construir do que linhas de metrô. “Enquanto uma faixa de carros comporta 800 veículos que transportam em média 1,4 pessoas no horário de pico, que é igual a 1.200 pessoas, por hora faixa, um corredor de ônibus transporta 10 a 12 mil pessoas. É uma média de 1 por 10”, informa. “Nas dez faixas da marginal caberiam o mesmo que em uma faixa de ônibus.”
O especialista considera “uma incoerência” obrigar o usuário de ônibus a arcar com o congestionamento causado por automóveis. “É no mínimo criminoso, ambientalmente e economicamente”. “A César o que é de César. Quem causa o congestionamento do automóvel é ele mesmo. Então, o congestionamento a quem o causa”, filosofa.
A proposta do consultor é estender os corredores de ônibus por 400 quilômetros de vias. Além da ampliação das faixas exclusivas, as principais rotas teriam duas faixas para ônibus, para que os veículos possam fazer ultrapassagens. Também seria possível a criação de serviços diferenciados com ônibus fretados e diretos.
“Não há mais o que fazer para obter fluidez, a não ser investir em transporte público”, defende Nordi, da Rede Nossa São Paulo. Questionado sobre a previsão de São Paulo ficar travada por inteiro em 2012, ele provoca: “Será que a cidade já não parou?”.
Caso a política urbana dê prosseguimento a investimentos maciços em vias para automóveis, a previsão é de mais problemas nos deslocamentos por São Paulo. “Pior do que está fica sim. A cidade está na descendente”, acredita Nordi. Na mesma linha, Figueira prevê que o medo da prefeitura incomodar os automóveis vai levar a cidade a uma “situação suicida”.
Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual