Por Allan Robert P.J.
– Deus, me ajuda…
– Sei… Você vai pedir pra ganhar na loto.
– Mas uma besteirinha já serve. Tô num beco sem saída.
– Você entrou nele por que quis.
– Não! Foi o destino!
– Livre arbítrio, filho. Livre arbítrio.
– Então, é tudo culpa minha? Das minhas escolhas erradas…?
– Poucos tiveram uma segunda chance. E você? O que fez da oportunidade que me pediu? Tem uma vida que mais se parece com aqueles personagens de romances da Escola Urbana: nenhuma relação afetiva que dure mais de algumas horas; bebe como um gambá; fuma como um condenado e come o que muitos jogariam no lixo.
– “Será que tudo o que eu gosto é imoral, é ilegal ou engorda?”
– A sua cota comigo esgotou. Arranje-se sozinho e mude de vida. Ou não se lamente, depois.
– Vou mesmo mudar de vida. Se não pagar o aluguel vou acabar debaixo da ponte. Sabe quanto custa um aluguel em Milão?
– Hum… Seria péssimo! Tem gente boa morando lá…
– Tô desesperado! Me ajuda, me ajuda… ME AJUDAAAA!!!
– …E você tem dinheiro pra jogar?
– EU ARRANJO!!! Vou vasculhar cada parquímetro dessa cidade, vendo o isqueiro ou a coleção de vinil…
– O relógio…?
– Não! O relógio, não: é lembrança dos bons tempos.
– Sempre apegado às posses materiais… *ai*
– Não tem que ser uma troca, tem?
– Você não está disposto a mudar, quer apenas mais combustível para alimentar essa sua corrida suicida. Dessa vez vai ter que se virar sozinho e eu não posso ajudar na sua destruição. Eu estou aqui para salvar as pessoas. Eu vou é querer estar longe, quando a bomba estourar.
– Aô! Vai me abandonar, é?
– Sabe quantas pessoas decentes estão pedindo a minha ajuda, neste momento?
– Eu sou indecente, por acaso?
– Faço uma lista detalhada?
– Uma quadra serve, vai?
– Nem um terno. Aliás, um terno novo até que você tá precisando. Quem sabe você decide ir à luta e se apruma…
– Prometo mudar. Me ajuda só mais essa vez.
– Vai à luta!
– Nadica de nada?
– Dessa vez, não.
– Então mata uma minha curiosidade: gambá bebe tanto assim?
– É só um modo de falar…
– Peraí, aquela não é a coroa que dava em cima de mim? Que me ofereceu casa, comida e roupa lavada e eu dispensei? Ela voltou! Tá piscando e sorrindo… Ganhei na loto! Brigadão! Eu sabia que você não ia me deixar na mão. Tchau!
– … (suspiro)
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.