‘João Andante’ uma pequena marca de cachaça do interior de Minas Gerais está incomodando a gigante que fabrica o uísque Johnnie Walker, vendido em todo o mundo
Poderia ser uma batalha de David contra Golias, do Jeca Tatu contra Tio Sam, ou de Dom Quixote contra um Lorde Inglês, mas é a briga de uma desconhecida – até agora – marca de cachaça do interior mineiro, que vende cerca de 200 litros da bebida mais popular do Brasil, contra a gigante ‘Diageo’, fabricante da marca de uísque Johnnie Walker, que fatura bilhões de dólares e também controla outras marcas famosas, como a cerveja Guinnes e a vodca Smirnoff.
A briga começou quando a Diageo entrou com ação no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), responsável pelo registro de marcas e patentes no Brasil, exigindo a retirada do mecado de uma tal ‘João Andante’, marca de cachaça brasileira, sob a alegação de plágio. Explica-se: não se trata de uma imitação da conhecida fórmula do tradicional malte escocês, já que se trata de bebidas diferentes. O uísque é a combinação da destilação de cereais nobres, enquanto a cachaça tem suas origens no período colonial, com a invenção de um irresistível destilado de cana de açúcar. Na verdade, João Andante, segundo a multinacional Diageo, é uma tradução livre – meio torta – da expressão inglesa Johnnie Walker.
A alegação de plágio é um evidente exagero. Inspirada no personagem Jeca Tatu, o ‘João Andante’ é um maltrapilho que caminha com um pedaço de pau e uma trouxa de roupa na ponta, enquanto que Johnnie Walker é um lorde inglês com cartola e botas de equitação. O andarilho brasileiro que inspirou a cachaça mineira foi retratado à exaustão nas lendas e ‘causos’ populares no Brasil. O próprio personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, criado na primeira metade do século XX não seria original. Ele foi inspirado em ‘Zé Caipora’, considerado o primeiro personagem dos quadrinhos brasileiros (1869-1883), criado por Ângelo Agostini, em “As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora”. Mas na época do lançamento do Jeca Tatu ninguém processou Monteiro Lobato por plágio. Outra inspiração para o tradicional matuto brasileiro é o ‘Caipira Picando Fumo’, obra de Almeida Júnior, pintada em 1893.
A Diageo é a maior fabricante de bebidas destiladas do mundo, com movimento de R$ 28 bilhões anuais, faturamento que a cachaça brasileira levaria milhares de anos para alcançar. Sem ter mais com que se preocupar, a gigante das bebidas resolveu tentar impedir o uso da marca João Andante, justamente no ano em que ela finalmente conquistou o registro da marca junto ao INPI para tentar vôos mais altos.
Sem lojas ou rede de distribuição, a cachaça ‘anda de boca em boca’, literalmente. Seus criadores não conseguem viver só de suas vendas, que atualmente não atingem R$ 100 mil anuais, e todos tem profissões paralelas. Com a notoriedade adquirida involuntariamente após a ‘publicidade grátis’ fornecida pela Johnnie Walker, João Andante caminha a passos largos para aumentar – e muito – as suas vendas a partir de agora. O site da cachaçaria nem está no ar ainda.
Ao digitar www.joaoandante.com.br o pretendente a cliente é informado que o ‘Bar Virtual’ da empresa está em construção, e que o comprador deve entrar em uma conta do Facebook ou enviar um e-mail, que estão lá para os solidários à luta inglória da ‘marvada’ pinga contra o vilão uísque gringo. De que lado você esta? Você tem sede de que? Faça suas apostas!
(Márcio Amêndola – Fato Expresso, com informações de Agências de Notícias)