São Paulo – A Comissão de Direitos Humanos do Senado realizou, nesta quinta-feira (23), uma audiência pública para tratar dos abusos cometidos na operação de reintegração de posse do Pinheirinho, em São José dos Campos. Além dos senadores e outros parlamentares paulistas e de São José, participaram da reunião ex-moradores que denunciaram o caráter violento da ação. A reunião foi marcada por uma acalorada discussão entre os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Aloysio Nunes (PSDB-SP)
Um dos ex-moradores, Deivid Washington Furtado, relatou que ao defender sua mulher, Maria Laura da Silva, foi atingido por bala de arma de fogo, o que lhe causou uma internação de 17 dias no hospital. “Se a bala fosse de borracha, não teria deixado essa marca. O exame confirmou que eu fui atingido por uma bala letal”, disse Furtado, mostrando aos senadores a marca deixada pelo projétil.
Um documentário contendo gravações e imagens da operação também foi exibido durante a audiência. Um desabrigado chegou a citar a reintegração como um “estupro social”. Foram denunciados ainda casos de abuso sexual.
Suplicy lamentou a ausência na audiência de autoridades envolvidas na operação, caso do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), do secretário estadual de Habitação, Silvio Torres, e dos juízes que determinaram a reintegração. “É muito importante que os juízes acompanhem de perto os relatos das pessoas para que conheçam melhor o resultado de suas decisões”, disse Suplicy.
De acordo com o parlamentar, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), garantiu que todos os excessos cometidos pelas forças policiais serão investigados e punidos.
Bate-boca
Na discussão, o senador tucano acusou o petista de politizar o fato e negou que os abusos tenham sido cometidos. Como argumento, ele lembrou que nada foi falado em relação a desocupações ocorridas em outros estados, como a Bahia, além do Distrito Federal, ambos governados pelo PT.
“É um procedimento unilateral que visa a instrumentalizar a comissão por partidos políticos, no caso o PT, e outros grupos, como o PSTU, que o PT usa para terceirizar seu radicalismo”. O senador tucano chegou a classificar os líderes comunitários, muitos deles relatando ter sofrido violência policial, como “parasitas”. Deivid Furtado interveio em seguida: “Não sou parasita; sou trabalhador”.
Suplicy também reagiu ao insulto: “O senador Aloysio Nunes precisa primeiro ouvir o que ele acha que não ocorreu. Estão aqui os exames médicos, os vídeos das pessoas e das cenas ocorridas, em que ele diz que não houve violência”, esbravejou, pedindo para que o peessedebista não deixasse a comissão.
Mais tarde, o petista negou que as críticas tenham fundamentação partidária. “Fosse eu um senador do PT e tivesse um governo do PT, onde PMs tivessem realizado ações com tamanha violência, estaria da mesma maneira aqui cumprindo com meu dever”, assegurou.
Na próxima reunião da Comissão de Direitos Humanos, marcada para quinta-feira (1º de março), devem ser debatidos outros temas e as desocupações de outros estados, além de retomado o assunto Pinheirinho.
Com informações da Agência Senado
Entenda o caso:
A decisão da juíza Marcia Loureiro que viabilizou a reintegração de posse do terreno passou por cima de liminar da Justiça Federal, que suspendia a ação de reintegração por 15 dias. Acreditava-se que um acordo estaria próximo de acontecer, uma vez que deputados estaduais, senadores e governo federal articulavam uma solução sem confrontos.
O juiz auxiliar do TJ, Rodrigo Capez, cassou todas as liminares impetradas pelos movimentos sociais. A ação ocorreu na madrugada de 22 de janeiro e contou com efetivo de 2 mil policiais militares, inclusive da Tropa de Choque.
Além de audiências públicas no Senado, o deputado estadual Marco Aurélio (PT-SP) corre atrás de 32 assinaturas para instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Pinheirinho, na Assembleia Legislativa paulista. Ele garante que o governo estadual exerce forte pressão sobre os parlamentares da base governista para que não assinem e contribuam com a investigação.