Governo de São Paulo corta verbas para expansão de trens, enquanto Metrô tem o pior ano em falhas técnicas
O governo estadual reduziu os investimentos em cinco das seis linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em 2011. A queda é maior nas linhas que têm registrado mais falhas nos últimos meses. No geral, foram gastos R$ 238 milhões a menos no ano passado – corte de 19,6% -, de R$ 1,2 bilhão, em 2010, para R$ 989 milhões em 2011. O orçamento também foi reduzido no período, em cerca de R$ 47 milhões. A empresa diz que enfrentou dificuldades para investir a verba no ano passado, mas diz que os recursos estão empenhados, e serão gastos.
Só neste ano, ocorreram seis falhas. A Linha 9-Esmeralda foi a que registrou a maior queda porcentual: 38,6%. O ramal recebeu R$ 121,3 milhões no ano passado, ante R$ 202,7 milhões nos 12 meses anteriores. No dia 16 de fevereiro, foi lá que um trem descarrilou, interrompendo o transporte por quase oito horas. Um dia antes, 38 passageiros ficaram feridos em uma colisão na Linha 7-Rubi, cuja redução foi de 36,7%. Em 2010, foram investidos R$ 140,1 milhões no ramal, ante R$ 88,6 milhões no ano passado. O quadro se repete na Linha 12-Safira, cujo corte foi de 29%. Na quarta-feira, uma falha no sistema de tração dos trens levou passageiros a caminhar pelos trilhos. A única que escapou foi a Linha 8-Diamante, que obteve uma pequena alta, de 1,3%.
A redução de investimentos prejudica diretamente a reconstrução de estações na Grande São Paulo. Apenas três devem ser entregues até o fim do ano: Osasco, na Linha 8-Diamante, Francisco Morato, na Linha 7-Rubi, e São Miguel Paulista, na Linha 12-Safira. Todas já deveriam estar prontas.
Suzano, na Linha 11-Coral, enfrenta o mesmo problema. A nova estação, esperada para este ano, só ficará pronta em meados de 2013. Em Ferraz de Vasconcelos, na mesma linha, o serviço chegou a ser paralisado por dois anos, e criou um conflito político. A prefeitura decidiu multar a CPTM em R$ 25 mil por problemas decorrentes do atraso, como a duplicação da principal avenida, que precisou ser adiada.
Por causa da demora na conclusão dos projetos, os acessos às estações em reforma foram dificultados. Passarelas improvisadas aumentam o tempo do deslocamento dos passageiros e prejudicam o transporte de portadores de deficiência. Agora, a previsão é correr com as obras, “para finalizar antes de 2014”.
Puxadinhos. Na última quarta-feira, em visita às obras da nova Estação Osasco, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) alegou interferências na execução das obras e afirmou que todas as estações estão sendo refeitas por etapas, uma vez que não se tratam de “puxadinhos”. A lista é ampla. Contém 28 intervenções, desde a reconstrução de estações até a construção de passarelas e modernização dos sistemas de sinalização, item considerado por especialistas em segurança uma das prioridades da companhia. Para este ano, a previsão é investir R$ 1 bilhão. Entre as prioridades, além da reforma do sistema e das estações, estão a compra de novos trens e a redução do intervalo entre eles.
Panes no metrô quase dobram em 2011
Cresceu o número de falhas registradas no metrô de São Paulo. Dados da companhia obtidos pela reportagem mostram que, nos últimos dois anos, a quantidade de ocorrências operacionais na rede quase dobrou, passando de 32 em 2010 para 59 em 2011. São interferências que prejudicaram a circulação dos trens, causando atrasos e agravando os efeitos da superlotação. Variadas, as panes vão de bloqueios das portas por usuários a defeitos técnicos nos sistemas de controle das composições. A estatística não inclui a Linha 4-Amarela, gerenciada pela ViaQuatro.
A situação foi pior na Linha 2-Verde, onde os casos mais do que triplicaram, subindo de 7 para 24. As linhas 1-Azul e 3-Vermelha tiveram, cada uma, 15 ocorrências em 2011, ante, respectivamente, 11 e 10 no ano anterior. Na 5-Lilás, a menos carregada, as panes variaram de 4 para 5. Entre as explicações para mais falhas estão o aumento da demanda e os testes de um novo sistema de sinalização, o CBTC (sigla em inglês para “controle de trens baseado em comunicação”). Esse mecanismo começou a ser instalado na Linha 2-Verde há cerca de um ano e meio, entre as Estações Sacomã e Vila Prudente. Quando estiver operando em todo o ramal, ainda neste ano, deverá fazer o intervalo das composições cair.
O diretor de Operações da Companhia do Metropolitano de São Paulo, Mário Fioratti Filho, diz que o aumento de panes já era esperado. “No primeiro semestre de 2011, nós tivemos um número de falhas no sistema de sinalização muito maior do que a média admitida como normal, porque era um sistema novo entrando em operação”, diz. A quantidade de ocorrências teria diminuído nos meses seguintes.
Passageiros que usam com frequência a Linha 2 também reclamam da lotação. “De manhã, espero até cinco trens passarem para conseguir embarcar”, diz o gerente de segurança Claudio Luis da Silva, de 30 anos. Já a fisioterapeuta Daniele Miranda, de 25 anos, não aguenta mais tantas paradas “para aguardar a movimentação do trem à frente”. “Estão cada vez mais comuns.”
O Metrô informa que no ano passado, os trens percorreram 1,7 milhão de quilômetros a mais do que em 2010, o que também ampliou as chances de falhas. Como a previsão é de que mais quilômetros sejam percorridos neste ano, o número de falhas ainda poderá subir. Até o dia 29, houve oito ocorrências.
Pedido de explicações. O secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, deverá ser convocado a explicar o aumento no número de ocorrências operacionais nas linhas do metrô na Assembleia Legislativa. O deputado estadual Donizete Braga (PT) fará a solicitação nesta semana. Procurada, a concessionária ViaQuatro não respondeu quantas panes ocorreram na Linha 4-Amarela em 2011.
(Rede Brasil Atual e Agências, com Fato Expresso)