Hillary Clinton reafirma caráter dos EUA de ‘xerifões’ do mundo, mas não explica massacre de mulheres e crianças por soldado americano
A Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton acaba de afirmar na terça-feira (13/3) que somente seu país pode ganhar a guerra por um mundo ‘mais pacífico’, justificando o papel de polícia do mundo atribuído ao seu país. Segundo ela, “apenas os Estados Unidos tem o alcance, os recursos e as relações para conseguir um mundo mais pacífico e próspero” e que “a liderança dos Estados Unidos é ainda mais importante” neste processo.
Ela falou na Segunda Conferência Global de Chefes de Missões e não teve nenhum pudor em dizer que também há interesses no “mapa estratégico” do Oriente Médio, diante de uma “crescente concorrência econômica”, onde há “novas oportunidades para associação” (no caso, negócios com petróleo, principalmente), mas há também “novas ameaças” (no caso, ascensão de governos islâmicos que surgem sobre os escombros de ditaduras históricas do mundo árabe). Traduzindo, em nome da ‘democracia’ e da ‘liberdade’, os EUA continuam vendo o mundo como um grande balcão de negócios, e um grande cenário para seus filmes de bangue-bangue.
Hillary falou ainda de ações de seu país em nome da ‘segurança cibernética’, ou seja, os EUA estarão agora, mais que nunca, criminalizando ações como as de Julian Assange, que com seu site Wikileaks publicou milhares de documentos secretos do governo americano, comprovando a intervenção dos EUA na política interna de vários países, espionagem, chantagens e ameaças a governos locais contrários a seus interesses. Hillary também deve ter se referido aos direitos autorais de grandes corporações dos EUA, pirateadas na Internet, e o desejo dos EUA de controlar o fluxo de informações na rede mundial de computadores, por meio de censura, retirada de sites e blogs do ar, e até prisão de cidadãos de outros países, por agentes da CIA e do FBI.
Massacre de Mulheres e Crianças
O que Hillary Clinton não falou aos Chefes das mais de 280 embaixadas e consulados que os EUA mantém no mundo presentes à Conferência, foi sobre o massacre de 16 afegãos, a maioria mulheres e crianças, por um soldado americano enlouquecido. O incidente, ocorrido no domingo (11/3), chocou o mundo e deixou indignados os representantes do mundo árabe.
O incidente ocorrido em Kandahar, na parte sul do Afeganistão, torna ainda mais insustentável a presença ostensiva de tropas dos EUA nos países árabes. O soldado foi detido por forças da OTAN, mas o estrago já estava feito. Talibans passaram a convocar o mundo árabe a encontrar e matar soldados e cidadãos dos EUA que encontrarem pela frente, acirrando ainda mais os ânimos e levando a mais mortes da população civil inocente.
Como sempre, autoridades militares tentaram amenizar o massacre de mulheres e crianças, chamando o caso de “incidente” e afirmando que haviam detido o soldado para investigações, e que o soldado teria passado por uma “crise nervosa”. Teria sido outra “crise nervosa” que levou vários soldados há poucos dias queimarem vários exemplares do Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos, equivalente à Bíblia cristã) numa base em Bagram, nos arredores de Cabul, diante de câmeras, em tom de deboche?
O presidente Barack Obama, no intervalo de sua campanha eleitoral à reeleição, com os Republicanos – ainda mais radicais em favor da intervenção militar no mundo – tentou justificar o injustificável. “Ofereço minhas condolências às famílias e entes queridos daqueles que perderam a vida e ao povo do Afeganistão, que suportou muita violência e sofrimento”, desculpou-se em nome dos EUA. Mas já era tarde, e o estrago já estava feito.
O presidente do Afeganistão, que na prática é um fantoche dos interesse dos EUA no país e fortemente repudiado por grupos radicais islâmicos, classificou o massacre de civis “imperdoável”, endurecendo o seu discurso, o que normalmente deixa de fazê-lo: “O governo condenou reiteradamente operações realizadas em nome da guerra contra o terror, que causam perdas civis. Mas quando afegãos são mortos deliberadamente por forças americanas, trata-se de um assassinato e de uma ação imperdoável”, disse o presidente afegão que, no entanto, não deu sinais de romper o acordo que mantém tropas dos EUA permanentemente instaladas em seu país, onde agem e matam como bem entendem, em nome do combate ao terrorismo.
(Márcio Amêndola, do Fato Expresso, com informações de Agências Internacionais)