Allan Robert P. J.
Em 1996, voltando para casa, atropelei um cavalo às onze e meia da noite num trecho sem iluminação da Estrada do Coco. Até a Praia do Forte se chama Estrada do Coco, a partir dali, Linha Verde. Estava a uns trezentos metros da entrada do condomínio quando me espatifei num poste, numa rua de terra do outro lado da estrada, depois de ter amortecido o cavalo que rolava por cima do carro com o pára-brisa, o braço direito e o rosto.
A fratura craniana explica muita coisa. Ou, pelo menos, é o pretexto que uso. Por puro reflexo devo ter tentado frear, pois foi o fato de manter o pé esticado que o esmigalhou em cento e trinta e oito fraturas, do tornozelo para baixo. Um mês hospitalizado e três meses de cama em casa. Poderia ter sido pior, muito pior. Para mim; pro cavalo e para o carro, não. O motor do Fiat Uno da empresa saiu pelo porta-malas. Quem me conhecia antes do acidente diz que melhorei muito. A tal fratura…
Aproveitei as férias forçadas para me aproximar da Luiza, minha caçula, que era arredia como ela só. O mundo dela era a mãe e a irmã. Às vezes, a babá. Eu saía de casa cedo e voltava tarde. Viajava, ia a inaugurações ou festas patrocinadas pela empresa, vivia enfiado em reuniões ou urgências que varavam a madrugada e via-as pouco. Sábado à tarde e domingo. Mas aí era ela quem não queria saber de mim. Tudo mudou com o acidente. Passávamos a tarde toda assistindo desenho no quarto, montando quebra-cabeças na sala ou cuidando da horta juntos: Bianca, Luiza, eu e as muletas. Foi amor a segunda vista.
Foi nessa época que descobri a tecla “Alt” do computador, nas muitas horas livres que tinha (tenho uma insônia fiel). Cheguei a fazer uma tabela enorme com todos os caracteres possíveis com esse recurso. Lembrei dela hoje, após receber um e-mail de um amigo que me escrevia de um net-café com um teclado sem acentos. Claro que é possível entender um “eh” como um é, ou um “soh” como um só, mas é cansativo. Meu teclado não tem os acentos do português e eu precisaria configurar na versão brasileira, mas estou tão acostumado a usar a tecla “Alt” que nem me dou conta. Fui checar e descobri que ainda tenho a tabela reduzida que havia deixado na minha carteira. Funciona assim: mantenha a tecla “Alt” apertada e digite um número. Por exemplo, ALT 130. O resultado é a letra é, acentuada.
Se você viaja ou mora fora do país e também não gosta de escrever sem acentos, experimente usar essa tabela. Não coloquei todos os recursos, apenas os essenciais, mas você pode ampliá-la, descobrindo todas as possibilidades.
ALT 160 – á ALT 198 – ã ALT 131 – â ALT 133 – à
ALT 130 – é ALT 136 – ê ALT 161 – í ALT 162 – ó
ALT 147 – ô ALT 228 – õ ALT 163 – ú ALT 135 – ç
ALT 128 – Ç ALT 181 – Á ALT 182 – Â ALT 199 – Ã
ALT 144 – É ALT 210 – Ê ALT 214 – Í ALT 226 – Ô
ALT 224 – Ó ALT 229 – Õ ALT 233 – Ú ALT 251 – ¹
ALT 253 – ² ALT 252 – ³ ALT 167 – º ALT 166 – ª
ALT 171 – ½
Sei que há quem irá perguntar se não poderia ter utilizado o tempo em coisa mais útil, mas garanto que li todos os livros do mundo naquele período. Também plantei alho em toda a volta do terreno da casa para evitar cobras, ouvi todos os shows que as rádios transmitiam pelas madrugadas, decorei aquela do Led Zeppelin que não sabia e produzi máscaras africanas com papel machê. E muitos anos depois, morando na Itália, descobri como aquela tabelinha pode ser útil. Você acha que estou pirando? Bom, é que tive uma fratura… Já contei de um acidente que tive em agosto de 96? Eram onze e meia da noite…