Se escreve calcio, mas lê-se “caltchio” com o “L” torcendo a língua e o “CI” como em tchau (ciao, em italiano). Trata-se do esporte nacional italiano, desbancando até o ciclismo. Suscita paixões, ódios e muito pouca indiferença. São sessenta milhões de técnicos, brigas nos estádios, calendário apertado, federação desacreditada e desorganizada, árbitros e técnicos pagando o pato e a imprensa criticando enquanto aproveita para vender jornais e espaços publicitários. Assim como o nosso, o futebol italiano está em crise. Muitas são as teorias, inclusive as minhas.
Futebol de salão é uma novidade pouco apreciada por aqu, quadras onde se possa praticá-lo, idem. Isso apesar de todo vilarejo ter o próprio ginásio coberto, para basket e vôlei. É no futebol de salão que a nossa molecada se desenvolve e aprende os dribles que enlouquecem a Europa. Outra coisa: jogar bola na hora do almoço ou pelas ruas, nem pensar. A tática dominante no futebol italiano inverteu a filosofia do esporte. Aqui não vence quem faz mais gol, mas quem toma menos. Conclusão da minha teoria: Com tão pouco investimento nas categorias de base, com os poucos espaços para uma pelada espontânea (bába, em baianês) e com a definitiva invasão de profissionais estrangeiros, fica quase impossível formar uma nova geração de jogadores italianos. Nos grandes times a maioria dos atletas titulares são estrangeiros, o que dificulta a formação de uma seleção italiana com jogadores de qualidade e que sejam titulares em seus clubes.
Por falta de opções, vez ou outra utiliza-se a colaboração de oriundos de outras plagas, como é o caso atual do centrocampista brasileiro Thiago Motta, titular da seleção italiana (jogou também nas seleções brasileiras sub 17 e sub 23) num hábito antigo, da época do nosso Mazzola, campeão em 1958 com Pelé e cia. e que aqui utilizou seu próprio nome, José Altafini, quando jogou o mundial de 62, no Chlle, pela seleção italiana. Outra coisa que diferencia do nosso futebol é a inexistência de campeonatos regionais. Com uma área menor que muitos estados brasileiros, não faria sentido promover um campeonato com times de qualidade técnica tão heterogênea apenas para economizar viagens. A quantidade de times, como se pode imaginar, também é muito inferior.
Os jogadores de futebol são seguidos, perseguidos, sondados, entrevistados, vasculhados nas suas intimidades; flagrados, fotografados e vítimas de fofocas nem sempre infundadas. São, também, mercadoria para inflar os preços das ações dos times que os negociam. Em uma semana, um jogador pode ser comprado e vendido por três, quatro times, dando o tempo necessário para que a imprensa divulgue a transação e ser vendido novamente. Muitos times possuem até quarenta jogadores, que emprestam a outros times, livrando-se do salário mas mantendo o investimento. Os técnicos são tratados como VIPs dentro do campo. Os jogadores se referem a eles como “Mister”. Assim, em inglês. Montam o time segundo o esquema tático desenhado por eles e pouco se importam se aquele jogador famoso custa um salário absurdo ao clube: se não se enquadrar no esquema do técnico, fica no banco.
As transmissões são um caso de polícia. As distâncias são relativamente curtas e a possibilidade de assistir um jogo ao vivo é muito maior que no Brasil, mas a comodidade de assisti-lo pela Tv, com replay em câmera lenta, cerveja e tira-gosto certamente esvaziaria os estádios, principalmente no inverno. Para preservar a venda de ingressos, os jogos do campeonato nacional não são transmitidas pela Tv aberta. Quer dizer, são, mas você não vê. Os canais que as transmitem convidam um punhado de comentaristas que assiste o jogo ao vivo nos estúdios e transmite o desenrolar da partida. E você ali, assistindo os comentaristas que assistem o jogo. Ou pode assistir pela Tv paga. Ou sair para jantar.
Um capítulo extra são os torcedores. Vão para a frente do clube e param os jogadores para interpelar-lhes sobre um comportamento que consideram inadequado, como não comemorar espalhafatosamente um gol. Interferem na vida do time sem que o clube se oponha e demonstram suas opiniões através de faixas exibidas no estádio durante os jogos. Algumas com expressões racistas.
O meu primeiro contato com uma operação de guerra foi quando o Juventus veio jogar com o Piacenza. A polícia tomou conta do estádio e da estação de trem. Horas antes do jogo, a praça da estação foi bloqueada e haviam quatro ônibus estacionados, com grades no lugar das janelas. Paro para olhar – sem lembrar da partida – e fico aguardando o que imagino ser o transferimento de prisioneiros de algum campo de concentração. O trem chegou com um vagão também com grades, escoltado por um exército de policiais que conduziram os passageiros daquele vagão até os ônibus. Trânsito parado, sirenes ligadas, motos, viaturas, cães e policiais com bombas de gás formavam o cortejo; no meio, os quatro ônibus. Os torcedores lançavam pelas grades algumas bandeiras, copos descartáveis, isqueiros, bitucas de cigarro, papel higiênico, cuspe e gestos obscenos. Caso o Juventus tivesse perdido, teriam agredido até os policiais.
Pois é, o calcio italiano até que é muito parecido com o nosso futebol. Só muda o molho da macarronada no domingo.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.
Xico, Pellege eu queria fazer uma susejte3o pra pauta do programa, uma vez ou outra vcs poderiam falar sobre a biografia de um grande jogador que fez sucesso na Europa e ne3o e muinto conhecido aqui no Brasil, como por exemplo Eric Canton ou van Basten.