É possível conhecer muito da personalidade de uma pessoa apenas observando como se veste. O hábito faz o monge. A roupa de uma pessoa torna-se um código decifrável das aspirações e valores internos. Em alguns casos não é apenas a armadura que nos protege e nos insere nas convenções para uma segura convivência social, mas a identificação com os nossos semelhantes, formando as diversas tribos urbanas, onde nos sentimos seguros e participamos da comunhão das regras que julgamos oportuno seguir.
Italiano é muito elegante. Ao menos uma parte deles, como em qualquer outro lugar do mundo. Andando pelas ruas é possível identificar a origem das pessoas, seja pelos traços físicos, seja pelas roupas. Os italianos do Norte se vestem de um modo mais clássico, mais europeu. São, também, mais claros e com traços mais próximos à sonhada raça ariana de Hitler; os do Sul, além do característico sotaque, costumam vestir-se com jeans um número menor e geralmente manchados, daqueles que se encontram nas feiras livres das nossas cidades, além da semelhança com os ancestrais árabes. Os cabelos são um outro diferencial: os homens meridionais (sulistas) costumam usar os cabelos negros e crespos com brilhantina, espetados para cima e curtos dos lados. Nos do Norte os cabelos mais claros e lisos são curtos no estilo água e sabão. Em toda essa história se diferenciam os romanos, eles são um caso à parte. São elegantes, mas não se entende nada do que eles falam.
Os carros contam sobre as aspirações e modus vivendi assim como a roupa. Quem vem do Sul (a parte pobre da Itália) compra um usado que será utilizado por toda a família. Inclusive primos, sogra e cachorro. Quem é do Norte pode até ter um carro grande, mas será novo. Ou será um falso a dândi e usará um carro menor, como quem não se importa com essas coisas materiais. E nos fins-de-semana deixará o carro na garagem para passear de bicicleta. Sem o celular, que é para não poder ser localizado pelo primo ou pela sogra.
A moda é uma questão de bom senso. E, como sou filosoficamente e por princípio contra o bom senso, sou, também, contra a moda. Nada contra quem se adapta a ela. Explico: Na minha – às vezes obtusa – concepção, o bom senso deriva do senso comum, que é o senso, o sentimento da maioria. Acontece que o sentimento geral pode vir de uma avaliação superficial da realidade, ou mesmo distorcida, que é o que acontece na maioria das vezes em que ouço as besteiras seguidas da expressão “bom senso”. O tal bom senso já provocou guerras mundiais e brigas entre casais. Que no fundo é mais ou menos a mesma coisa. Usando o bom senso, a italianada lota as estradas na madrugada da véspera de feriado, quando não deveria ter ninguém na rua. Mas as estradas estarão lotadas também ao meio-dia, meia-noite ou qualquer outro horário, porque o país é muito pequeno pra tanto carro e tanta vontade de férias. O início de Primavera trouxe um calor anormal (26 ºC!) e todos, munidos do bom senso e entrando na moda, resolveram ir à praia. É a oportunidade ideal para uma desfilada na eterna espera quilométrica do pedágio.
Aqui a moda é usar carro Ford ou qualquer carro médio que não seja italiano. Esforçar-se por parecer o mais europeu possível; andar de bicicleta nos fins-de-semana; caminhar pelas ruas dos centros históricos; usar o máximo de expressões em inglês que lembrar (fazer shopping ou footing, stretching na fisioterapia, “bom week end”, reception, etc.); fugir para a praia em qualquer oportunidade; dançar ballo sudamericano; ter o último modelo de celular; fazer fila na frente da livraria que reabre às nove da noite; jantar fora com os amigos ao menos uma vez por semana e usar as cores e as roupas decretadas pelos estilistas.
Sei não…
Acho que podíamos aprender alguma coisa com eles.
PS – No lugar do bom senso prefiro usar o discernimento, que é a capacidade de avaliar e compreender situações com clareza e perspicácia. É um pouco mais difícil que usar o bom senso e está completamente fora de moda, mas estou me habituando.
**Allan Robert P. J., carioca de nascimento, tem 51 anos, viveu em Embu (SP) por quase duas décadas e lá se casou com Eloá, em 1987. Mudou para Salvador (BA) onde estudou Economia e o casal teve duas filhas. De lá, foram para a Itália, onde vivem atualmente. Allan é micro empresário do ramo automotivo, e Eloá trabalha no ramo de alimentação. Ambos têm raízes (amigos e parentes) na ‘ponte’ Embu-Assis-SP. Allan é irmão dos advogados Bruce P. J. e Dawidson P. J., radicados em Embu. Dawidson já foi do primeiro escalão da Assessoria Jurídica da Prefeitura de Embu no governo Geraldo Puccini Junior (1993-96), e ambos já participaram da diretoria da subsecção da OAB de Embu”.