Com as políticas de fiscalização no meio rural, aumentou a exploração de crianças e adolescentes nos centros urbanos
por Hylda Cavalcanti, da RBA
Brasília – A exploração do trabalho infantil tem adquirido um crescente caráter urbano, segundo tendência observada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Esse é um dos principais temas em debate na conferência global que é realizada desde ontem (8) em Brasília, com a participação de 140 países.
Segundo especialistas, a “urbanização” do trabalho infantil se deu sobretudo depois das ações de fiscalização e punição em regiões rurais – e estaria sendo percebida a partir da década de 1990, com registros de ampliação nos últimos anos.
Nesses casos, a exploração ocorre em trabalhos domésticos nas capitais e grandes cidades, em empresas de confecção (principalmente os filhos de migrantes) e no comércio informal de produtos, como no caso de camelôs.
Conforme enfatizaram os responsáveis pelo painel que abordou o tema ontem (9), tanto no Brasil como em outros países, sobretudo da América Latina, o trabalho infantil urbano é observado em crianças mais velhas, cujas famílias não se encontram em situação de pobreza, mas que se utilizam dos filhos e sobrinhos para ajudar nas tarefas, seja no lar ou em negócios.
“Nos últimos anos, apesar de todas as melhorias vistas no Brasil e das políticas de distribuição de renda do governo, muitas crianças passaram a enfrentar dupla jornada de escola e trabalho”, acentuou o pesquisador Juan Estevez, representante do governo chileno.
A técnica em pesquisa Selma Regina Araújo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que, se antes o discurso da família era de que as crianças precisavam trabalhar para ajudar na renda em casa e por isso estavam fora da escola, em muitos casos o discurso passou a ser de que a escola é fundamental, mas depois dela as crianças precisam trabalhar para ajudar os pais. “Já é uma grande melhora, mas o trabalho, se por acaso diminuiu, continua sendo exigido dessas crianças.”