Texto: Márcio Amêndola
O canal da Amigos ENFF no YouTubem em parceria com o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, realizou com o professor Janes Joge uma entrevista com o tema “Agenda ambiental em perspectiva histórica”, onde o convidado fez uma análise sobre os últimos acontecimentos que colocam em xeque o modelo de desenvolvimento atual. O debate foi mediado pelo jornalista e historiador Márcio Amêndola, da Associação de Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes.
Janes Jorge é Professor Associado do curso de graduação e do programa de pós-graduação do Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Realiza pesquisas na área de história ambiental. É autor do livro “Tietê, o rio que a cidade perdeu”, e organizou os livros “Panoramas Ambientais do Brasil Rural” e “Cidades Paulistas: Estudos de História Ambiental Urbana”.
Janes é um crítico da degradação ambiental gerada pelas grandes cidades, com a supressão de mananciais importantes para as regiões metropolitanas, que foram totalmente inviabilizados para o uso como recurso hídrico, dando como exemplos em seus estudos, os rios Anhangabaú e Tietê, e os grandes sistemas de abastecimentos atuais da região metropolitana de São Paulo, alguns dos quais em colapso.
Quando da tragédia do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana-MG, em novembro de 2015, e depois, se repetindo de forma ainda mais dramática em Brumadinho, com centenas de mortos, o professor passou a estudar o fenômeno, e refletiu, como historiador ambiental, afirmando que “esses desastres que envolveram a Vale (Cia Vale do Rio Doce), a Samarco, sua subsidiária, são uma coisa terrível, tenebrosa, algo muito perturbador (…) as pessoas sendo tragadas por algo brutal”, e continua: “em perspectiva histórica, tem uma situação que já começa com a privatização da Vale, e há uma incompatibilidade entre uma gestão que deve maximizar os lucros, pois a missão de uma empresa privada é garantir o lucro ao seu proprietário, e nesses tempos de capitalismo neoliberal, onde o capitalismo financeiro se exacerbou, se viu tão poderoso que não quer nem mais dialogar com a sociedade; existe aí uma contradição entre buscar a maximização dos lucros e administrar os recursos naturais de forma a atenderem os interesses da maioria da sociedade”.
Indagado se pode haver um ‘capitalismo ambiental’ e se essas palavras podem ficar juntas na mesma frase, Janes Jorge reflete que “é preciso impor limites à maximização dos lucros, ela tem te ser contida, tem que ter limites, a vida no Planeta tem limites (…) nós já estamos vivendo a crise ambiental”.
Sobre iniciativas como as do Movimento Sem Terra, que compatibiliza a produção com a proteção ambiental, praticando a agroecologia, Janes afirma que “o MST é um movimento já antigo, que me orgulha, fico muito feliz de saber que ele existe, tem uma história belíssima, foi refletindo sobre o país e sobre o mundo, e foi incorporando o que precisava, para ser uma força viva (…) e essa incorporação que o MST fez da questão ambiental foi importantíssima, porque o colocou no futuro; a agroecologia é o futuro, é impossível parar, porque a crise ambiental está aí. Em uma situação gravíssima com a que estamos vivendo hoje, de desespero social, de barbárie, e a situação hoje no Brasil é de completa barbárie, é evidente que nessa situação em que todos estão lutando para sobreviver até amanhã, para não ser despejado de casa, para ter o que comer amanhã, a situação hoje é de desespero (…) a crise social é gravíssima (…) ninguém é satisfeito com a vida que leva, e gastar tantos recursos, tanta energia, para viver tão mal como vive. Então a busca por comida saudável vai fazer por si só a aproximação entre o MST e grande parte da população urbana”, reflete.
Para Janes Jorge, “cuidar do meio ambiente é cuidar dos seres humanos, não há incompatibilidade, porque nós, melhorando a vida do povo, vamos melhorar também o cuidado com a natureza. Essa mensagem a gente precisa reforçar, na verdade há uma aproximação, se eu cuidar da vida do povo no campo, se eu cuidar do povo na cidade, estarei cuidando da natureza”.
Para conhecer mais sobre a opinião desse professor e historiador do campo progressista brasileiro, veja a entrevista na íntegra, no Canal Amigos ENFF, no YouTube, em: https://www.youtube.com/watch?v=oOnkAlL8t14